Amor miserável
Eles estão sempre ao nosso redor e muitas vezes nos fazemos de cegos, não olhando a quem Deus quer alcançar. Quando ignoramos pessoas carentes, talvez sejamos o mais miseráveis dos homens.Esses dias meu esposo tivemos um agradável e marcante passeio ao supermercado Extra, obviamente, para comprar uma lembrancinha de aniversário para minha avó. Embora meu coração estive ávido pelo primeiro aniversário surpresa dela, algo “incomum” me marcou neste dia.Quando digo incomum entre aspas é porque, na verdade, é um fato comum nos nossos dias. Incomum para mim, porque como cristã, me vi confrontada com as palavras de Jesus que disse: “Tudo quanto fizer a um destes pequeninos, a mim fazeis” (Mt 18.10).
Todo mundo que vai até a um supermercado percebe que dificilmente se vê pessoas de rua lá dentro. Normalmente essas pessoas são barradas na entrada, são excluídas da nossa sociedade; são rejeitadas por todos e infelizmente até por nós que dizemos ser cristãos. Me vi confrontada com esta dura realidade, porque fui provada em como amo o Senhor no meu dia a dia.Pessoas de rua, sobretudo crianças, sempre mexeram com o meu coração. Não consigo passar ao lado delas e ignorá-las com os olhos. Automaticamente “congelo” ao ver em seus olhos o sofrimento da vida delas. Tenho pedido ao Senhor que me ajude a amar e a ajudar estas pessoas.
Sei que cada uma dessas pessoas tem histórias incríveis e trágicas que revelam o porque de suas vidas estarem como estão. Tenho pedido sensibilidade para que eu as veja por meio da ótica de Deus e as ame, com o mesmo amor que Deus me amou.
Na fila do caixa, quando olho para trás de mim, surge uma senhora toda suja, fedorenta que segurava em seu colo um garotinho. Com os cabelos todos desarrumados, tanto ela como ele, cabelos castanho claros, pezinhos sujos, unhas pretas, pele encardida, o menininho se mostrava incrível ao sorrir para mim. Era como se o mundo não representasse um perigo ou uma incerteza para ele. Ele segurava na sua pequena mão uma fruta dada por um funcionário do mercado. Educadamente, a senhora pediu que eu pagasse alguns alimentos que ela comprara para seu menino. Olhei para meu esposo e ele para mim, e entendemos que eles precisavam ser ajudados. Pensei o quanto uma mãe está disposta a fazer o que for preciso para não ver seu filho padecer de fome.
Entre os itens que ela tinha escolhido, não havia nenhum que precisasse ser cozido ou feito na panela. Provavelmente porque eles não teriam um fogão para preparar aquele mantimento.A senhora só pediu e não falou mais nada. Seu olhar cabisbaixo e sofredor moveu meu coração. O sorriso do menininho, me encheu de alegria e me fez pensar que meus problemas são tão mínimos perto dos problemas que eles tem; percebi o como sou miserável em não amar esses pequeninos como eles mereciam, e como sou ingrata com Deus quando reclamo de muitas bobagens.
Enfim, eu sorria para o menininho embora quisesse chorar de tristeza por causa da situação miserável deles. A fruta que ele comia caiu no chão e eu sabia que ele sentia fome. Comprei um bolinho para ele e uma coca-cola para ela e falei para ele comer. Ele, inocentemente, só sorria.Depois disso, fiz questão de colocar todos os itens na sacola para esta senhora e assim, ela se despediu agradecendo e foi embora em paz. Pensei: “talvez nunca mais eu a veja. Quando saí do supermercado, procurei com os meus olhos mas não os encontrei. Procurei pelas ruas próximas e não os encontrei.
Fiquei com esta cena no meu coração pensando em quantos milhares aquela mãe e filho representam no nosso país. Por algumas horas até tinha me esquecido do aniversário da minha avó.Naquele dia fez muito frio. No calor e no conforto que o Senhor permitiu que eu tivesse dentro da minha casa, imaginei onde estariam essa senhora e aquele garotinho tão lindo.
Que o Senhor desperte neste dias, nos nossos corações, o amor e compaixão para com o próximo.
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